25 de maio de 2009

Nos heróis...Somos assim mesmos...Por que vovó?

NÃO ATIREM! POR FAVOR EU CONFESSO... Não era mesmo esse o “defunto” que planejava postar – essa noite – no Cemitério das Palavras Perdidas. Motivos externos me obrigam a dar seqüência a “SeNTia qUe Lá VeM a EsTÓRRRia”, tem fatos que chegam e mudam tudo, para isso acontecer basta principalmente estar vivo e apenas sair um pouco de casa, hehehe.

Depois de completar fielmente o trajeto máximo de minha atividade corriqueira, pensei em passar no mercado logo em frente para comprar alguma coisa – light – para comer. Logo na saída do edifício, uma senhora me pergunta onde fica outro supermercado – nesse caso o concorrente -,literalmente situado ao lado de onde moro. Gentilmente indiquei com o dedo o local, mas ela não se deu por satisfeita, queria mais, pediu que acompanhasse naqueles poucos metros, alegando estar completamente perdida!

Apesar de cansado e morto de fome, resolvi atender, não custava nada, infelizmente, justo logo no momento que estava repleto de fome, sujo e bastante cansado? Além do espírito fraternal que brota nos corações, ajudou também a simpatia que de imediato nutri por aquela senhora, de estatura muito baixa, talvez nem chegasse a ter 1.60, recordo bem, sua cabeça nem chegava a altura de meus ombros e olha que nem sou tão grande assim. O "look" despertava atenção, vestida com roupas muito grossas, parecia temer o frio e sua dicção denunciava se tratar de uma mulher bem nordestina, oriunda de algum interior qualquer.

Logo chegamos até a entrada do local, foi quando descobri, não estava a procura da loja, na verdade o utilizava como ponto referencial.“Meu filho, estou procurando a casa da minha filha, que fica muito próximo de um mercado novo aqui na região. Por favor me ajude estou completamente perdida”, disse. “Ahhh como eu sofro”, logo pensei. Como sabia que teríamos de caminhar um pouco – aquela altura, metros para mim equivaliam a quilômetros -, resolvi ajudá-la com os pertences que carregava, eram dois, o primeiro, uma sacola plástica que continha uma caixa de isopor - DioUs sabe lá o que havia dentro. A mim incumbiu o segundo, uma bolsa enorme, dessas mochilas comuns de se guardar roupa, incomum pelo peso, quando a ergui, juro solenemente, quase a derrubei no chão. Até tive “pena”, apesar de não gostar de nutrir esse sentimento por ninguém, aquela pobre senhora, em sua idade, não devia ser exposta a locomover uma trouxa tão pesada, e ainda perdida, começa a ficar claro o motivo de sua aflição.

Depois de acompanhá-la pelas redondezas, em busca do “suntuoso palácio real” que haveria de abrigar sua filha, confidencio-lhes, encontramos de tudo, menos o tal “castelo” e olha que passamos por vários edifícios, por aqui onde moro tem mais condomínios do que pessoas para morar neles. Eu, se antes cansado, agora me encontrava deveras exausto, precisando de água para ingerir e me banhar, não sabia aquela altura o que mais incomodava, fome, sede ou fadiga. Quanto a uma “fuga”, aquilo se tornou um mistério que minha curiosa vaidade infame agora queria revelar, esse acontecido culminaria tardiamente em um novíssimo causo para postar aqui no Cemitério, para isso bastaria ir até o fim, somente me faltavam forças.

“Senhora, seja mais exata, onde ao certo mora a sua filha”, poxa vovó dá uma luz aí, please. “Ela mora perto desse novo supermercado, só que na época era bem menor, acho que reformaram durante o período que estive fora. Lembro também de um grande jardim na frente, uma praça se não me falha a memória, levava muito minha neta para brincar lá. Tinha ainda ao lado do edifício uma locadora”, foi aí que matei a charada! Esqueci de mencionar, além dos condomínios, essa região também é repleta dos chamados “mercadinhos”, três no total, em um raio de poucos metros e uma particularidade, dois desses pertencem à mesma franquia, ficando a menos de 300m um do outro. A senhora foi incapaz de perceber que aquela era outra construção. Foi mais simples equivocadamente pensar que a loja foi ampliada, inclusive também demonstrava não enxergar muito bem, somada ainda a questão do nervosismo, e um fato único, é um tanto absurdo se imaginar a inauguração de dois empreendimentos iguais em localidades tão próximas, diferenciando-se apenas no porte físico.

A proposta aqui não é análise mercadológica, depois da revelação, nossa jornada se tornou mais simples, não seria mais preciso caminhar por várias léguas, enfrentando leões, abismos, perigosas florestas e tantas coisas mais. Dando seqüência, chegamos ao ponto certo, ou o mercado certo – RS –, não houve dificuldade em reconhecer a loja. Seguindo viagem, o desafio agora, achar a locadora, também não foi muito difícil encontrar, finalmente a boa mãe a casa retorna, para o colo da filha amada, antes apenas caminhamos mais um pouco, a senhora contava as horas, quanto a mim o martírio maior envolto em forma de um castigo divino, no fim também sobrevivi, foi compensador, aquela senhora está sã e salva, pode passar a noite ao lado da filha, netos e genro – será que é uma sogra malvada?

Final feliz! Posso terminar o texto, apesar de uma súbita impressão, vocês devem estar pensando, falta algo a esse relato. Não posso culpá-los, também me vejo envolto a semelhante conjunto de noções. Agora poderiam me ajudar, talvez falte em torno dessa história, estabelecer algum tipo de conflito a trama, realmente é necessário inserir uma nova cartada, algum tipo de novo elemento. Essa é uma sensação e se confirma aqui, uma vez que aqui, nesse mesmo lugar, se fizer o fim deste post.

O texto felizmente não acabou. Alguém imaginaria, a figura central desse relato não é aquela senhora de quem –sequer - soube o nome, mas sim eu, aquele que vos escreve. Quando já estávamos muito próximos da casa de sua filha e sua memória vinha “voltando”, fazendo com que relembrasse aquelas ruas – afinal esteve na city há menos de três anos -, o nervosismo foi sumindo, dava lugar a uma pessoa mais extrovertida, cheia de facetas, lembro de ter dito não saber o que seria dela caso não tivesse cruzado comigo, contou que percorria aqueles arredores a mais de uma hora, sem o menor sinal do destino correto, chegando a quase implorar por informações e as pessoas simplesmente não se disponibilizavam a ajudá-la, houve até certo exagero quando disse, “você é um anjo enviado do céu para me mostrar o caminho”, jamais vi um anjo tão feio.


Não vou menti, fiquei sim no começo bastante atentado a dizer, infelizmente, “não posso ajudá-la, não sei o local que procura” e retornaria a missão, comprar comida e matar... Uma vez enquanto procurávamos, lembro até de ensaiar mentalmente um discurso de despedida, no fim claro, o desejo de boa sorte, de alguém que no fundo realmente - não - está deveras se importando. Quantas vezes já devo ter feito isso e sequer me recordo? Não sei se devia contar, mas cheguei até a imaginar em meio a toda essa insânia, que aquilo podia ser algum tipo de emboscada – e não quero ouvir nenhuma risada -, com aquela senhora fazendo parte de uma gangue a me atrair para uma armadilha, logo surgiriam os bandidos encapuzados, quem sabe de alguma “nave eSpaCioNaL” e... Mais ridículo, que tal pensamento é saber que a fantasia brotou em minha mente, mais precisamente uma instância artificial em forma de “medo”, para me safar e abandonar aquela pobre senhora, em plena noite de domingo, a mentira perfeita para conter um suposto arrependimento tardio. Resisti sim e bravamente, não peçam que aponte a razão, uma vontade maior, abstrata mas se fazia concreta, abrolhava uma força maior, não pude ir embora, nunca iria me perdoar se a deixasse, talvez seria o maior erro da vida, espero um dia entender, respiro aliviado por saber , “isso não fiz não”.

Quando chegamos à porta do condomínio, novamente sussurros de agradecimentos, queria me presentear, com as mãos contava algum dinheiro tirado da bolsa, “não é necessário, senhora, fico feliz por ter ajudado”, e sequer fiquei atentado a aceitar. E parti da mesma forma como surgi, no perfeito anonimato. Existe uma magia misteriosa em ajudar as pessoas, a qual ninguém nunca vai saber explicar, mas é até simples de descrever, um sentimento que vem de dentro da alma, invade todo o corpo, uma leve e intensa sensação, é gratificante se doar a quem precisa. Como uma espécie de corrente, parece que fizemos algo divino, talvez seja “isso”, esse mesmo “isso” é uma representação do tal milagre que todos sonham um dia testemunhar, e existe sim, ao menos em nosso íntimo, talvez sejam uma única coisa, vai saber, certo é que todo ato de bondade reflete sim no mundo e se propaga através de vibrações. Poucos enxergam, esse poder existe, ao menos para salvar a si próprio, é sentir-se livre, andar tranquilamente, parece que estamos flutuando em “branca paz”. Uma caminhada onde se busca a evolução como filho e a repassa adotando – por instantes - a figura de um pai. Muito obrigado a todos por lerem esse POST.



2 Coveiros:

Katiana disse...

Bonito

rafa floribela disse...

LINDOOOOOO

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