Não se sabe quem, ou precisamente o que está por trás dessa investida aterradora. Possui vários epítetos criados pelos homens como bruxa do sonho, demônio das sombras, homem da meia-noite, ou simplesmente bicho-papão. O ser das trevas, ou entidade, como prefira concebê-lo, parece habitar os sonhos das pessoas, onde se mantém vivo, perpetrando o horror.
No abrir dos olhos, é possível observá-lo no canto do quarto, sorrateiro nas sombras, postado sobre os pés da cama, com aquele aparente sorriso recheado de cinismo, conseguindo manter meu corpo paralisado, havendo controle apenas sobre o movimento dos olhos. Sua primeira manifestação ocorreu quando ainda era criança e tantos anos depois, permanece sendo impossível descrever sua aparência com riqueza de detalhes: um vulto na escuridão, movendo-se através das sobras que se formam.
O expurgo do inferno era ausente de feições. A energia que emanava era formada por algo ainda pior e mais intenso que a maldade. Estava acordado sim, mas não conseguia me mexer, por mais que tentasse, era como se a bel-prazer pudesse me manter imóvel, com o poder da mente. Cada segundo, a famigerada experiência atingia contornos ainda mais aterrorizantes.
Era possível que a estranha figura não fosse munida de poder algum, além de costurar as presas com o próprio medo, aprisionando gradativamente toda capacidade de reação. Algumas vezes a insólita entidade parecia adotar a forma de uma mulher e quando, em meu íntimo, atenho-me a rezar por uma saída, simplesmente estendia seus braços compridos, formando a imagem de uma cruz, parte de um estratagema frívolo, sórdido, articulado com único propósito de defenestrar a fé, insultando aquilo que acreditava.
Antes de partir para desbravar outros pesadelos, seus olhos frios e escuros cruzavam com o meu, despertando ainda mais inquietude. Subitamente a figura assombrosa, vultuosamente, caminhava ao meu encontro. O mal ainda se manifestava através das sombras que se espalhavam compassadamente pelas paredes gélidas, profanando o cômodo agora tomado pela escuridão, não há dúvidas: estávamos diante de algo verdadeiramente maligno.
Em um gesto de desespero, tentava reunir as últimas forças para gritar, romper a inconveniente paralisia e correr o máximo possível para longe, mas não havia resposta, continuava imóvel, diante dos olhares daquele emissário do demônio, a voz tragada pela escuridão, as pernas desobedecem. Sem perceber, retomava ao sono profundo e todo cenário era desmantelado.
Não era apenas um pesadelo, era