5 de junho de 2011

Romance

O João amava a Maria... e a Maria... bom, a Maria...

Nas pegadas da amabilidade, afinal quanto tempo se leva para encontrar um amor verdadeiro? Talvez não muito, quando se parte do ponto que o princípio ativo desse demônio conhecido como amor, vem de dentro para fora. O sentimento já habita o íntimo e se prolifera em ritmo constante, às vezes desenfreado, bastando apenas se deparar com um tolo e o elegermos como súdito desse tesouro (erário) em clima de maldição. Não importa, o desafio maior é encontrar alguém disposto a asilar nossos ímpetos de afabilidade.

O procedimento é distinto, o critério de escolha pode beneficiar candidatas de diversos tipos. As mais populares, inteligentes e quem sabe as gostosonas em meio a seus cabelos cacheados, acompanhados pelas pernas avantajadas. Também tem as carentes ou as mais tímidas, aquelas bem ricas também apresentam bons atrativos. Mas claro, para variar, logo se encantou e acabou preferindo a esquisita e contraditória, atraído simplesmente pela indiferença que exibia em cada minuciosa atitude, o olhar contido, jeito rude, comportamento arredio, servindo para denunciar o medo, carência e, sobretudo, solidão. Ela procura alguém que lhe cuidasse e ele almejava quem quisesse se deixar proteger.

O diálogo e a cumplicidade nunca foram os pontos fortes, eram suprimidos pelo encantador clima de disputa, afinal formavam um casal (a)normal, ansiando elementos modernos para fomentar a relação ardilosa. Ambíguos, o alimento eram as suas brigas e discussões variadamente fúteis. O murmúrio encantador renegava os campos abstratos e figurava como uma condição mais concreta, por meio da ausência de humor que ostentava, unidos as brincadeiras idiotas que fazia uso, que misturadas a plenitude do gozo, acabavam apenas referendando mais um experimento hilário naquele malfadado casamento.

A beleza não lhe era ausente, embora peculiar, constantemente ofuscada pelo semblante nefasto e a índole inconstante. Mas, aparentemente, a resultante desses defeitos era positiva. Ele nunca mentiu quando disse que a amava, porque talvez não compreendesse o seu modo de amar. Seus olhos vislumbravam uma espécie de latria que dialogava com devoção e excessiva obsessividade. No entanto, possuía um lado mais puro, romantizando milhares de ilusões, com direito a fatos jamais acontecidos, fingindo acreditar nas mentiras que inventa, deletando o que nunca existiu, por ser vitimado por uma saudade que assombra, um desprezo que condena, um amor que só destrói.

Definitivamente, os fim não justificam os meios, não há como abortar da maldição que o cerca. Também não importa quantas vezes se abandonem, dará posteriormente um jeito de trazê-lo de volta. E retomará o desafio, mesmo sabendo que nada poderá fazer para ajudá-la, alterando o fatídico cenário de dor e desvelo, padecendo do vazio que a cerca, o palco da iminente derrota está erguido, nunca imprimindo qualquer mudança significativa.

Sim um amor, acometido pelo desgosto da incerteza, nunca saberá ao certo a qual das duas incide o sentimento, na personagem real ou diante de uma figura dramática criada por seu inconsciente insano, ligada ao seu íntimo fantasioso. Desconfia estar loucamente apaixonado por uma extensão de sua mente que não se sabe bem como, resolveu habitar sem permissão o corpo dela.

Certeza é que no fim, ambas, a real e aquela correspondente ao seu pensamento, não precisam mesmo desse amor, apego e dedicação, que ousou jurar que lhe pertenceriam para sempre.
PS:Uma relação intrínseca e misteriosa que está muito além de uma reles concepção de estilo literário.

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