9 de abril de 2019

Galanteador aposentado

Certas realidades podem vir à tona da pior maneira possível, na forma de um metafórico soco no estômago, embora sempre acabe brotando uma ponta de esperança no final... Morar próximo a shopping tem seus atrativos, basta pensar em uma tarde ou noite enfadada e o passeio é logo aventado, nem que seja apenas para “matar” o ungido do tempo.
Como as coisas costumam acontecer quando menos se espera, às vezes, incursões despretensiosas tornam-se efetivamente burlescas. Era mais um dia peregrinando pelas vidraças, pensando como as coisas estavam caras, cantarolando algumas canções da biblioteca musical do celular, quando fui sucumbido por uma aparição, não bem um fantasma, mas podia, não apenas, parar meu coração, como fazê-lo bater ainda mais depressa.
Embora estivesse acompanhada, a princípio não pude notar a existência da persona ao seu lado. Afinal, vivenciava um espetáculo fílmico, o espectro entrava em cena intempestivamente e como num mero estralar de dedos, todos voltavam o semblante para contemplar sua passagem. Vislumbrava seus cabelos negros e lisos, movendo-se pelo ambiente, espalhando um cheiro de flor enquanto caminhava compassadamente, esbanjando sexualidade ao ostentar o par de pernas encarcerado naquela saia justa, membros aparentemente confeccionados por poetas visuais da envergadura de Leonardo da Vinci.
A narrativa ainda se mostra ineficiente para caracterizar a bela figura, com no máximo 21 anos de idade, muito além de um cabelo formoso aliado a pernas deslumbrantes, detalhes que até poderiam passar despercebidos diante do carisma advindo daquele efusivo sorriso, olhos negros penetrantes, apinhados de amabilidade, semblante de uma pessoa singela, carisma puramente natural, tão autêntico como o pôr do sol ou a força da gravidade.
A delicadeza de seus lábios abrasados me deixava circundado pela castidade, talvez forjada por leve inspiração ao exagero, até reparar: vinha sendo fitado por outra pessoa, rompendo assim o transe. Era uma mulher, praticamente da mesma altura e com feições semelhantes à bela figura, mesma pessoa que desde o começo a acompanhava e anteriormente não havia percebido. Com 40 a 42 anos de idade, nitidamente conservava a beleza de outrora, despertando atenção pelo charme, também a chave do mistério, simples presumir de onde advém tanta beleza e poder de sedução daquela jovem.
Quando nossos caminhos cruzaram, com os mesmos trejeitos da sedutora aparição, aquela mulher sorriu pra mim, um olhar misterioso, tão envolvente quanto intimidador, portanto para não romper à incógnita nudez daquele momento, segui sem olhar para traz. O tempo passa e pode ter levado consigo meu sucesso com as “novinhas”, mas enquanto me reservar a singeleza de um sorriso como aquele, não poderei me queixar!

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